O ciclo positivo da agropecuária brasileira ainda deve se manter por muito tempo, mas os desafios para seguir avançando em produtividade e segurança jurídica, ainda são grandes. Este foi um dos alertas durante o evento que teve como tema Perspectivas e Desafios da Pecuária de Corte”, realizado no dia 21 de março pela Sociedade Rural Brasileira, de forma presencial na sede da entidade, na capital paulista, com a presença de dezenas de produtores rurais, mas também transmitido ao vivo pelo YouTube. O encontro reuniu especialistas que são referência no tema agropecuária sustentável, como o pesquisador da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda, o chefe-geral da Embrapa Territorial, Gustavo Spadotti, o diretor da Athenagro, Maurício Nogueira e o diretor de política agrícola e informações da Conab, Sérgio de Zen. 

“O Brasil é o país que mais preserva mata nativa no mundo e boa parte desta preservação ocorre dentro das propriedades rurais, mas os produtos da nossa agropecuária ainda não são reconhecidos lá fora por este comprometimento com a questão ambiental, representando um dos maiores desafios atuais para o setor”, ressaltou Gustavo Spadotti. Os pesquisadores da Embrapa Territorial, Spadotti e Evaristo de Miranda, lembraram ainda que o Brasil preserva 66,3% de seu território com matas nativas protegidas ou preservadas, sendo que 33,2% estão dentro das propriedades rurais.

“O agro brasileiro alimenta mais de um bilhão de pessoas no mundo e ao longo de 5 décadas criamos um modelo sustentável e competitivo de agricultura tropical, que garantiu ganhos de produtividade e segue avançando cada vez mais do ponto de vista tecnológico”, resumiu Miranda. Ele lembrou de tecnologias atuais, com o uso de biológicos, que permitem por exemplo uma maior absorção de nutrientes como o fósforo, garantindo economia de fertilizantes tradicionais, em tempos de escassez e preços altos no mercado mundial.

“Foi uma honra e um grande aprendizado para todos nós da Rural receber estes amigos especiais e especialistas que são referência não só no Brasil, mas mundialmente quando o assunto é a nossa agropecuária e a sustentabilidade”, afirmou a presidente da SRB, Teresa Vendramini. 

Pastagens Degradadas

O analista e diretor da Athenagro, Maurício Nogueira, destacou as previsões otimistas para o consumo de proteína animal mundialmente, que deve crescer 7% em 2023, na comparação com 2020. “É muito provável que nos próximos anos os pecuaristas precisem investir o dobro do que investiram na última década para avançar em produtividade e assim a demandar a demanda crescente”, afirmou Nogueira. 

Os dados do IBGE compilados pela Athenagro mostram que o rebanho brasileiro aumentou 12,8% ao longo de 32 anos, enquanto a produção de carne cresceu 108,4%, portanto, a produtividade foi ampliada em 147,4% no período, mesmo diante da redução de 15,8% na área de pastagens. 

Maurício Nogueira defendeu políticas públicas fortes para frear o processo de degradação. “É mais eficiente do que só ir lá tentar recuperar o que já foi degradado”, disse. Com dados baseados na ciência, será possível identificar a aptidão de cada área, que muitas vezes pode ser até melhor destinada à agricultura e estabelece parâmetros viáveis, inclusive para pequenas propriedades que muitas vezes ficam ameaçadas por políticas que podem gerar exclusão social no campo.

Outro destaque do evento da SRB foi a participação do diretor de política agrícola e informações da Conab, Sérgio de Zen, que explicou que os quatro pilares estratégicos que estão norteando as ações do Ministério da Agricultura na atual gestão. O primeiro pilar é a necessidade urgente da regularização fundiária, já que a falta de uma titulação correta das terras afeta todos os setores, mas em especial a pecuária.

O segundo pilar é o avanço na implementação efetiva do Código Florestal, que também só pode existir com a posse da terra, destacou Sérgio de Zen. “Os investimentos feitos na agropecuária são de longo prazo, por isso não podem contar com este nível de insegurança jurídica, é muito importante avançar na dinamização do CAR, por exemplo” explicou. O terceiro pilar é a rede nacional de recomposição de pesquisa agropecuária, para direcionar cada vez mais o foco de entidades como a Embrapa para os avanços tecnológicos que racionalizem o uso de recursos, elevando a produtividade e adotando práticas sustentáveis. “O quarto pilar é a informação, estamos incorporando tecnologias e fazendo parcerias para ter dados em órgãos como a Conab, cada vez mais assertivos, apurados, sem discrepâncias, para potencializar ainda mais a eficiência da nossa agropecuária”, detalhou.

Sergio de Zen acredita que com o avanço da análise do solo, um tema que voltou a ser mais discutido em função dos problemas atuais com os fertilizantes, deve beneficiar este processo de ganho de eficiência. A integração lavoura e pecuária vem ajudando a recuperar renda e ajuda muito a fazer o melhor aproveitamento dos fertilizantes, reduzir até mesmo uso de pesticida, disse ele, mas é fundamental ter uma gestão apurada, um modelo como este vai demandar não apenas softwares, mas profissionais capacitados para acompanhar no detalhe este gerenciamento.

“A pecuária vai continuar sendo um negócio sustentável por muitos anos, um estudo divulgado em 2020 previa que em 5 anos o mundo agregaria pelo menos 250 milhões de novos consumidores de proteína animal, especialmente do Sudeste Asiático, não é só a China, mas estamos falando de países como Camboja, Vietnã”, finaliza. 

Você pode assistir a gravação deste encontro no Canal da SRB no YouTube, clique aqui!