A Sociedade Rural Brasileira enviou um ofício a Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura solicitando informações sobre uma mudança recente nos critérios relacionados a identificação da cisticercose em bovinos. De acordo com o decreto publicado no dia 18 de agosto, se houver a detecção de cistos durante o abate nos frigoríficos, as carcaças bovinas podem ser condenadas sob alguns novos critérios, o que inclui o encaminhamento para as graxarias ou o tratamento pelo frio. A medida abrange até mesmo as carcaças que contenham cistos (cisticercos) já calcificados, causando prejuízos e transtornos tanto aos pecuaristas quanto para a indústria.
“A regra anterior era mais flexível, menos rigorosa”, explica o diretor-executivo da SRB, Luiz Roberto Zillo. Segundo ele, quando fosse encontrado um único cisto já calcificado, por exemplo, a antiga portaria liberava a carcaça para o consumo, sem restrições, após a limpeza dos locais afetados.
Outra mudança estabelecida pelo decreto nº 10.468/2020, publicado pelo Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, estabelece que se o número de cistos encontrado for reduzido, que não caracterize infecção intensa, passa a ser obrigatório o tratamento pelo frio ou pelo calor, após a remoção das áreas atingidas. “Os frigoríficos não tem nem espaço físico para manter as carcaças por 15 dias a menos de 10°C conforme determina esta nova legislação”, alerta Zillo.
O dirigente da SRB informa que a entidade está recebendo inúmeros relatos e reclamações de pecuaristas sobre os descontos no preço final pago pela carcaça ao produtor, em função deste decreto. Segundo Zillo, o frigorífico tem como aproveitar parte destas carcaças para outros fins. Ao vender um bovino de 20 arrobas, por exemplo, cada pecuarista estaria sujeito a um desconto que pode chegar a R$1.700,00 por carcaça. Caso a determinação seja encaminhar para a graxaria, o pecuarista não receberia nenhum valor por este animal.
Com o envio do ofício a SDA/MAPA, a SRB espera esclarecimentos sobre os motivos da mudança. A entidade afirma que existem pesquisas recentes que consideram outras formas de tratamento a frio, com menos tempo de câmara. Após o posicionamento do MAPA, a SRB vai decidir sobre quais medidas poderá adotar para tentar minimizar o prejuízo aos pecuaristas.
A cisticercose bovina é uma enfermidade provocada pela presença de larvas parasitárias da Taenia saginata. Quando no estágio adulto, este parasita (solitária) afeta o sistema intestinal do ser humano. Em propriedades com saneamento e sistema de esgoto precários, os dejetos humanos acabam contaminando pastagens, água e alimentos, colocando em risco os sistemas de criação a pasto ou terminação em confinamento. No Brasil, estima-se que a cisticercose bovina atinja entre 0,7% e 5,3% do rebanho, dependendo da região.