Por Teresa Vendramini, produtora rural e diretora do departamento de Pecuária da Sociedade Rural Brasileira (SRB)

No Brasil, a superficialidade e o sensacionalismo ainda ditam o tom dos debates sobre os impactos ambientais da pecuária. Na cobertura da mídia e nas discussões do governo virou rotina ver a atividade rotulada como responsável pela devastação de florestas e emissão de gases de efeito estufa. Sem compromisso com qualquer fundamento técnico, essas análises ao mesmo tempo comprometem a construção de um País competitivo do ponto de vista produtivo e sustentável do ponto de vista ambiental.

Em dois anos à frente do Departamento de Pecuária da SRB, tive a oportunidade de aprender muito sobre a realidade da atividade no Brasil em fóruns, seminários e conversas com produtores rurais. Notei como os pecuaristas já estão unidos para traçar um novo olhar sobre a pecuária, transformando o senso comum e os velhos dogmas em informações qualidade para o mercado e a sociedade civil.

Temos tudo para mostrar que a pecuária tropical, com manejo de pastagem intensiva, é nosso principal trunfo para cumprir as metas do Acordo de Paris. Essa forma de manejo integra várias técnicas que aumentam a produtividade e o aproveitamento dos pastos. O modelo diminui em até quatro vezes as emissões e aumenta o sequestro de carbono. Cientistas da Embrapa descobriram que, graças ao manejo intensivo, a pecuária já é capaz de retirar carbono da atmosfera mesmo sem o plantio de árvores.

Por outro lado, não queremos varrer fatos para debaixo do tapete: a pecuária ainda tem muito a avançar em melhorias das técnicas de manejo, cuidados com a sanidade animal e incremento em genética. Se nossos produtores evoluírem nesses aspectos teremos ganhos significativos de produtividade. Felizmente, a pecuária brasileira está cada vez mais aberta a incorporar tecnologias nos sistemas de produção, um passo importante para reverter esse cenário.

A tendência foi comprovada por um estudo da consultoria Athenagro. O levantamento mostra como a pecuária vem conseguindo aumentar a produção em áreas cada vez mais reduzidas. De 2003 a 2018, os produtores brasileiros expandiram a produção em 500 milhões de toneladas usando uma área com quase 10 milhões de hectares a menos. A produtividade aumentou 84% no período como resultado de dedicação e ousadia na implementação das técnicas mais modernas de produção no campo. O estudo conclui que, nos últimos 27 anos, a evolução na pecuária evitou que outros 253 milhões de hectares fossem desmatados.

Isso sem contar o compromisso social da pecuária brasileira na produção de alimentos. Precisaremos aumentar nossa oferta de comida em mais de 70% até 2050 para alimentar uma população mundial estimada em 9,8 bilhões de habitantes. Só vamos fazer um Brasil referência mundial em segurança alimentar com boas práticas de gestão, uso de insumos, genética, integração e aproveitamento de resíduos, transformando alimentos pobres e não digeríveis pelo ser humano em proteína nobre de altíssima qualidade.

Já temos trabalhos educativos para jovens e crianças mostrando a importância da pecuária e do agronegócio na construção de uma agenda ambiental viável. Como integrante de uma entidade de classe, acredito no trabalho firme e diário e na importância da união de todos os produtores. Discutindo e planejando nosso futuro enquanto realizamos correções de rota quando necessário.

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