Mais de 800 pessoas acompanharam nos últimos dias em Marabá, no Pará, um evento que marcou novos avanços em produtividade e práticas sustentáveis na pecuária brasileira. Foi o “Pecuariando”, que reuniu diferentes entidades ligadas a cadeia produtiva da carne, com o apoio da Sociedade Rural Brasileira (SRB), e teve como um dos destaques uma mudança de postura do pecuarista em relação ao desmatamento. 

“Temos que ser firmes, o desmatador ilegal precisa ser punido, o pecuarista é contra qualquer ilegalidade, por isso estamos lançando iniciativas inéditas para combater esta prática e mostrar que a pecuária brasileira está buscando a regularização ambiental que o consumidor tanto espera de todos nós”, destacou Maurício Fraga Filho, presidente da Acripará, Associação dos Criadores do Estado do Pará, um dos idealizadores do evento, que também é conselheiro da SRB.

O principal destaque do encontro foi o lançamento de um manifesto assinado pela Aliança Paraense pela Carne, que reúne as principais entidades ligadas à cadeia produtiva, desde pequenos, médios e grandes produtores, passando pelas indústrias e até o setor de supermercados. O documento destaca a posição contrária do setor em relação ao desmatamento. Embora o Código Florestal permita que, ao adquirir uma propriedade, o produtor deva preservar 80% e ainda possa explorar 20% da área, acordos recentes entre o setor produtivo e o Ministério Público vêm sendo bem mais restritivos. 

Nos chamados Termos de Ajustamento de Conduta (TACs), entre frigoríficos e Ministério Público, já não se admite que indústria faça negócios com pecuaristas que tenham realizado algum tipo de desmatamento após 2008. Isso vem excluindo produtores da atividade e estimulando práticas que tentam burlar a legislação. Desta forma, a Aliança Paraense pela Carne resolveu buscar aliados e promover ações para regularizar a situação, garantindo ganhos de produtividade e segurança jurídica para todos. 

Uma das ferramentas fundamentais será o chamado Sisflor, plataforma que pretende auxiliar na regularização de quem desmatou após 2008. A área que foi desmatada será isolada para que seja feita a recomposição da mata nativa. “Será a primeira vez que produtores excluídos terão a oportunidade de voltar a fornecer animais aos frigoríficos, tudo alinhado com os acordos ambientais junto ao poder judiciário”, explicou o presidente da Acripará. 

Outro destaque é o programa “Pecuariando” que envolve uma parceria da iniciativa privada com a Embrapa e universidades, pra desenvolver e difundir tecnologia, fazendo com que mesmo sem avançar em área, o pecuarista seja capaz de produzir cada vez mais. “Queremos pelo menos dobrar o número de animais por hectare, com ganhos tecnológicos e práticas sustentáveis”, ressaltou Fraga. 

A presidente da SRB, Teresa Vendramini, vê com otimismo a iniciativa da pecuária do Pará. “O que mais no chama a atenção é este foco na conscientização do produtor e a coragem para liderar uma mudança de postura em relação a um tema polêmico que é o desmatamento˜, afirmou a dirigente. Na visão da SRB, todos devem sair ganhando já que produtores voltarão a ter acesso aos mercados, boas práticas ambientais e tecnológicas serão difundidas e o setor estará cada vez mais alinhado ao que espera o consumidor da carne brasileira que hoje está no mundo inteiro. 

A pecuária representa 10% do PIB do estado do Pará. São ao todo 22 milhões de bovinos e 1 milhão de bubalinos, que compõem o terceiro maior rebanho nacional de bovídeos. A estimativa é de 500 mil pessoas estejam envolvidas com o trabalho nas propriedades rurais. Além de ter grande participação na exportação brasileira de carne bovina, o Pará é o líder nacional nas vendas externas de gado vivo para mercados que preferem esta modalidade de comércio. 

O evento em Marabá contou com a participação do governador do estado Helder Barbalho e de importantes estudiosos da agropecuária brasileira como o ex-ministro Alysson Paolinelli, que se disse muito entusiasmado com o pioneirismo dos pecuaristas do Pará em iniciativas que atendam a demanda do consumidor, não apenas na questão ambiental, mas também nas questões sanitárias, que tiveram grandes avanços na região.