A fazenda é centenária. A família de agricultores chegou na região de Jaú, interior de São Paulo, em 1865, na época da Guerra do Paraguai, quando já iniciou por lá o cultivo de café. O líder desta propriedade rural é José de Sampaio Góes, no auge dos seus 72 anos, que hoje é um exemplo para as futuras gerações. O produtor faz parte do conselho da Sociedade Rural Brasileira, acompanhou a evolução não apenas das tecnologias do campo, mas também da organização política do setor. Mas resolveu inovar quando o assunto é sustentabilidade, saiu na frente em práticas que cada vez mais ganham espaço em diversas regiões do mundo.

“A preservação do meio ambiente não é apenas uma questão de vida selvagem, florestas, ar limpo, camada de ozônio” diz Góes, “é sim um modelo econômico que funcione dentro das limitações da natureza”.  O produtor critica quem apenas investe no aumento da capacidade produtiva sem considerar que toda a atividade humana depende de recursos naturais, que são limitados. “A continuar neste caminho faremos o planeta naufragar sob o peso de nossas exigências”, alerta.

“Para a SRB ter o José Góes como conselheiro é um motivo de muito orgulho, trata-se de um exemplo nas práticas preservacionistas, que nos inspira a buscar cada vez mais o equilíbrio entre produção agropecuária e o respeito ao meio ambiente”, diz a presidente da SRB, Teresa Vendramini.

Mudança de mentalidade

O produtor José Góes afirma que a grande mudança de comportamento na sua fazenda ocorreu em 2007, quando ainda plantava muita cana de açúcar e a prática das queimadas foi totalmente proibida para que a colheita se tornasse 100% mecanizada. “Muita gente nesta época começou a reduzir as curvas de nível para facilitar o trabalho da máquina e eu percebi que aquilo não estava certo, o resultado seria um grande aumento da erosão”, conta.  Ao mesmo tempo avaliou que era um momento propício para investir na produção de grãos devido a alta na demanda chinesa, mas queria fazer algo diferente, uma lavoura que fosse realmente sustentável.

José Góes é agrônomo, mas foi buscar a ajuda de um especialista em MIP, Manejo Integrado de Pragas, técnica que ao avaliar em detalhes o que ocorre em cada talhão, permite reduzir drasticamente o uso de agroquímicos. O produtor paulista também buscou inspiração na história dos pioneiros do plantio direto na palha como a família Bartz no Paraná que, inconformados com a erosão no início da década de 70, passaram a adotar o cultivo com intervenção mínima, preservando a palhada na solo após a colheita, abandonado de vez a prática de “revolver” o solo.

Soja, café e flores

Na Fazenda Santa Maria da Barra Mansa em Jaú, hoje são cultivados 350 hectares de soja e 36 hectares de café. O grande diferencial da propriedade é o plantio de extensas áreas de bosques com espécies melíferas que ajudam na polinização das lavouras e auxiliam o tratamento biológico de doenças e pragas.

“Fui até o Instituto de Botânica descobrir espécies de plantas que florescessem em períodos diversos, tenho avenidas inteiras na fazenda ocupadas por flores, afinal as abelhas andam mais que 150m, tem que ter ao longo de toda a propriedade pra ter uma cobertura de polinização boa”, explica o produtor com orgulho mostrando as fotos do “tapete verde” que a cobertura vegetal proporciona nas áreas produtoras.

Nas áreas com cultivo de soja no verão, o produtor planta aveia no inverno, sempre com foco na camada de palha do solo que traz diversos benefícios, não apenas evita a erosão, mas também sustenta a umidade do solo e favorece a retenção dos nutrientes.

As práticas sustentáveis não param por aí: o produtor vem adotando cada vez mais o uso de bioinsumos, feitos a partir de organismos de origem vegetal, animal ou microbiana, com impacto reduzido se comparado aos produtos químicos. No Manejo Integrado de Pragas (MIP) José Góes conta que a evolução tecnológica também tem sido grande aliada. “O drone coleta as imagens e conseguimos ver a diferença de cores entre cada talhão, otimizando o levantamento da ocorrência de pragas e doenças, o mesmo ocorre na hora da colheita, quando o computador adaptado indica os diferentes níveis de produtividade”, descreve. Outra iniciativa que ele faz parte envolve sistemas agroflorestais, prática que se expande em diversas regiões do interior paulista.

O produtor garante que não perde em produtividade nem em rentabilidade ao adotar práticas como estas. “Temos a mesma média de produtividade da região, colhemos na safra passada 57 sacas de soja por hectare”, afirma. José Góes sabe que está deixando um legado para as próximas gerações e espera com isso conseguir novos adeptos das práticas sustentáveis no campo. E deixa um recado final: “a natureza pode sobreviver sem o homem, mas o homem não pode sobreviver sem a natureza”.

A relação com a SRB

José Góes conta com orgulho que sua família faz parte da SRB desde sua fundação em 1919. “O primeiro presidente da Rural, o Cotching, filho de pai inglês, era nosso parente por parte de sua mãe” revela. Seguindo a tradição de todas estas gerações, Góes entrou no conselho da SRB em 1990, quando o então presidente Pedro de Camargo Neto o indicou para liderar a criação do Departamento de Meio Ambiente. “Mas a Rural tem desde 1934 o Departamento de Conservação do Solo, o que demonstra nossa preocupação com a natureza”, destaca.  O produtor diz que segue ativo na entidade porque sabe do comprometimento da SRB com a proteção dos recursos naturais em harmonia com a produção agropecuária.