Iniciativa da SRB, do FBDS e da Conservação Internacional visa promover produção sustentável e competitiva do agronegócio brasileiro

Aporte virá do Fundo Global para o Meio Ambiente, o GEF, até 2020

A Sociedade Rural Brasileira (SRB), em parceria com a Conservação Internacional Brasil (CI-Brasil) e a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), lançou nesta semana, em Brasília, o projeto Matopiba 2020. A iniciativa terá um aporte de R$ 50 milhões do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), nos próximos quatro anos, para o apoio ao desenvolvimento da sustentabilidade e à competitividade da produção de commodities agrícolas em toda região. O polo inicial de trabalho concentra-se em 29 municípios nas regiões de Balsas, no Maranhão (MA), em Porto Nacional, no Tocantins (TO), em Bom Jesus, no Piauí (PI) e em Barreiras, na Bahia (BA).

O objetivo do projeto Matopiba 2020 é promover a integração entre produção agrícola e conservação da biodiversidade, para levar o agronegócio brasileiro ao status de mais produtivo e sustentável do mundo. O Brasil quer levar ao conhecimento dos consumidores do mercado nacional e do exterior que o País adota no campo uma completa legislação trabalhista e que tem uma das mais exigentes legislações ambientais do mundo, com a aprovação do Código Florestal, em 2012.

A região de Matopiba é considerada a nova grande fronteira de expansão agropecuária no Brasil. A área reúne características diferenciadas para promover um processo de expansão agrícola, ao aliar o potencial de produção agropecuária às suas vocações naturais. Soma-se a isso o ativo ambiental ainda existente na porção norte do bioma Cerrado.

O Matopiba 2020 é anunciado um ano depois do Governo Federal formalizar a criação da Agência Matopiba, idealizada para fomentar infraestrutura, inovação e tecnologia na região. A Iniciativa pretende alavancar e complementar esforços já vigentes para implementação do Código Florestal de forma planejada na cadeia produtiva de commodities, promovendo o reconhecimento dessa produção sustentável pelo mercado global.

Como visão de futuro, o projeto ainda aposta ser possível desenvolver uma paisagem com 100% das propriedades inseridas no Cadastro Ambiental Rural (CAR), registo obrigatório para auxiliar no processo de regularização ambiental de propriedades e posses rurais, com uma cadeia de restauração ativa de reflorestamento, compensação das emissões do desmatamento legal e manutenção de boa parte das áreas protegidas na paisagem, incluindo unidades de conservação, terras indígenas, reservas legais e áreas de preservação permanente.


Benefícios

Para o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Gustavo Diniz Junqueira, investir no Matopiba significa abrir novos mercados para a produção agrícola e gerar renda para as áreas preservadas. “Somente assim podemos reverter os custos do Código Florestal em benefícios aos produtores, caso contrário, nosso agronegócio poderá perder sua competitividade e sua capacidade de gerar emprego e desenvolvimento”, afirma o presidente.

Na busca por um modelo de produção que concilie os desafios produtivos e as exigências de conservação, a iniciativa Matopiba 2020 apoiará a adequação ambiental de produtores na região, fomentando a adoção de práticas de agricultura de baixo carbono e a disseminação de tecnologias inovadoras para recuperação de áreas degradadas, assim como o desenvolvimento de um mercado de pagamento por serviços ambientais que possa valorar a preservação da vegetação nativa existente.

Com atuação integrada nos eixos de suporte à produção sustentável e competitiva, promoção da demanda por produtos diferenciados e apoio às transações financeiras, a iniciativa pretende demonstrar a compatibilidade entre a produção moderna de commodities e a manutenção de uma paisagem integrada na escala regional. Para o vice-presidente da CI-Brasil, Rodrigo Medeiros, a iniciativa dará força econômica, de forma sustentável, para uma região formada 90% por Cerrado – bioma do qual já ocupamos mais da metade de sua vegetação original. “A região pode perfeitamente se desenvolver, gerando benefícios econômicos, sociais e ambientais, naquela que é tida com a última fronteira agrícola do Brasil”, observa Medeiros.

A região de Matopiba é composta por 337 municípios dos Estados do Maranhão (135), Tocantins (139), Piauí (33) e Bahia (30) e cobre uma área de mais de 73 milhões de hectares, com uma população de mais de 6 milhões de habitantes. Entre 2000 e 2014, a produção de commodities (soja, milho e algodão) cresceu mais de 100% na região – apenas a área de produção da soja chegou a 3,3 milhões de hectares em 2014. Ao mesmo tempo, a região também é a parte do Cerrado ainda mais preservada e abriga várias regiões prioritárias para a conservação da biodiversidade. “A iniciativa vai assegurar a gestão sustentável de no mínimo 23 milhões de hectares e mitigar a emissão de 80 milhões de toneladas de CO2“, ressalta Rodrigo Medeiros. Corroborado com essa visão, o diretor executivo da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), Fábio Scarano acredita que “em parceria com atores locais, será possível ajudar a transformar Matopiba em um modelo que demonstra a viabilidade de conciliar desenvolvimento econômico, com justiça social e equilíbrio ambiental”.