O setor rural brasileiro é dinâmico, de alta tecnologia, sustentável e de grande importância econômica para o País, além de destaque internacional. Mas muitas vezes o retrato do agronegócio nos livros escolares é o oposto: por falta de dados científicos atualizados, imprecisões e conclusões enviesadas, ele tem sido associado à destruição ambiental, exploração, doenças, conflitos e outros problemas. Essa é uma das conclusões de um estudo da FIA/USP, apresentado pela Associação De Olho No Material Escolar nesta semana, em São Paulo.
A partir da análise de quase cem livros didáticos utilizados nos ensinos Fundamental I e II e no Ensino Médio, o estudo envolveu 12 analistas de conteúdo e especialistas do agronegócio, durante mais de 3 mil horas, para avaliar de forma isenta mais de 9 mil páginas de dez das principais editoras que fornecem livros para o Plano Nacional do Livro Didático (PNLD), utilizados nas redes pública e privada em todo o Brasil.
Foram identificadas 746 passagens negativas sobre o setor rural nos livros da amostra, 60% a mais que menções positivas. Monocultura, desmatamento, uso de agroquímicos e problemas fundiários foram algumas das abordagens mais recorrentes encontradas nos livros, sendo a absoluta maioria em textos autorais e opinativos.
“Para nós da De Olho no Material Escolar, é fundamental que crianças de todas as regiões do país tenham acesso a informações legítimas sobre sustentabilidade, tecnologia e inovação no campo e os impactos dessa prosperidade nas cidades. Por meio de uma educação atualizada, com base científica e transformadora, queremos estimular desde cedo nos estudantes sentimentos como encantamento e esperança com as novas oportunidades que vem se abrindo”, explica a presidente da entidade, Letícia Jacintho, que completa: “O setor tem grandes desafios, sim, mas a atividade evoluiu e queremos que fique clara aos alunos a realidade atual do agronegócio”.
Outro ponto crítico é como uma imagem distorcida do setor pode ameaçar a sucessão geracional. Letícia Jacintho acredita que, com base em exemplos da agroindústria, é possível oferecer aos jovens uma perspectiva de futuro profissional e garantir a continuidade da produção, outra das linhas de atuação da Associação.
A exposição da pesquisa, realizada na Fiesp, contou com a presença do vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira, Cesário Ramalho, além de autoridades como os ex-ministros, Roberto Rodrigues e Antônio Cabrera, os Deputado Arnaldo Jardim e Lucas Bove e o diretor de agronegócio da Fiesp, Roberto Betancourt.
Sobre o De Olho no Material Escolar
Criada em junho de 2021, a Associação atua em cinco frentes para construir pontes entre instituições acadêmicas ligadas ao segmento agroindustrial brasileiro e o setor educacional, especialmente as editoras de livros escolares, além de educadores, pais e estudantes. Antes de procurar a FIA/USP, o movimento teve diversas reuniões com representantes da área para conhecê-los, promover esse relacionamento e disponibilizar ferramentas tecnológicas e informações científicas que deem uma dimensão mais sistêmica da relação campo-cidade, por exemplo.
No ano passado, De Olho no Material Escolar teve um crescimento de 158% no número de associados e hoje está presente em 16 estados e mais de 90 cidades, além de contar com cerca de 30 empresas apoiadoras e o suporte de dezenas de entidades e profissionais envolvidos, incluindo o apoio direto dos principais centros de pesquisa brasileiros, como Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), que oferecem a base científica para a entidade.